RG
TEXTOS
Kishotenketsu [起承転結]
Estrutura narrativa originária na China e que se difundiu na literatura coreana e japonesa, sendo aplicada hoje em livros, cinema, teatro, mangás, webtoons, animes e doramas.
Ki [起]= Introdução ou “setup”. Introduz personagens, cenário, contexto e ambientação. Estabelece o tom da narrativa.
Sho [承]= Desenvolvimento. Aprofunda os elements do Ki e conduz a etapa seguinte. Deve manter sempre o tom estabelecido no “setup”.
Ten [転]= Reviravolta, twist ou clímax. Quebra a expectativa e altera o tom estabelecido nas etapas Ki e Sho, introduzindo um elemento contrastante e/ou desconexo ao apresentado anteriormente.
Ketsu [結]= Conclusão. Também chamado de “reconciliação”, porque reconcilia as o Ki e o Sho com os elementos introduzidos no Ten, unificando as três etapas anteriores e retomando o tom original para resolver o que se apresentou como destoante no Ten.
Este exemplo simples é do poeta Sanyō Rai (頼山陽):
1)Ki: “Filhas de Itoya, em Honmachi, Osaka” (apresenta personagens e cenário)
2)Sho: “A mais velha tem 16 anos, a mais nova tem 14 (aprofunda o que sabemos sobre as personagens)
3)Ten: “Através da História, senhores da guerra [daimyo] mataram seus inimigos com arcos e flechas” (introduz um elemento estranho e díspar na narrativa)
4) Ketsu: “As filhas de Itoya matam com seus olhos.” (reconcilia o elemento do Ten com o apresentado no Ki e no Sho, numa conclusão unificadora das 3 partes.)
Exemplo de Kishotenketsu em “Meu Vizinho Totoro”
Ki: Somos apresentados a 2 meninas e seu pai, que se mudam para uma casa antiga que fica mais próxima a região onde sua mãe enferma está internada para tratamento. Descobrimos que a casa é assombrada por criaturas ou espíritos que desde o início se mostram inofensivos. Esses elementos sobrenaturais, que em outras histórias seriam sombrios e aterradores, aqui são fofinhos e cativantes.
Sho: As irmãs encontram Totoro, nos aprofundamos na rotina das meninas ao vermos a mais velha indo para a escola, a mais nova brincando sozinha enquanto o pai trabalha. Somos apresentados a mais elementos sobrenaturais que vão sendo mostrados no mesmo tom estabelecido inicialmente no Ki, de modo natural. Mesmo nos deparando com o surgimento de uma criatura gigantesca, qualquer sensação de perigo ou risco é totalmente inexistente. Nisso, junto com as irmãs, recebemos a informação que sua mãe poderá vir para casa no fim de semana, que é um elemento importante para a etapa seguinte.
Ten: O “twist” aqui consiste na chegada de um telegrama onde é informado, sem maiores detalhes, que a mãe das garotas não poderá vir para casa devido a alguma complicação. Isso introduz um elemento sombrio, até então inexistente na narrativa. Quando a caçula, triste, resolve ir sozinha encontrar a mãe no hospital que fica a quilômetros de distância, a mais velha e os vizinhos fazem uma busca pela menina e nisso revisitamos os cenários que nos foram apresentados no Ki e no Sho, porém despidos de todo elemento sobrenatural, o que lhes confere, paradoxalmente, um clima sombrio e opressivo. Esse clima sombrio se intensifica quando os vizinhos encontram um chinelo da irmã caçula no rio e supõem que ela teria se afogado.
Ketsu: A seguir entramos na etapa de conclusão, onde Ki e Sho são “reconciliados” com o apresentado no Ten. Aqui são reintroduzidos os elementos de fantasia com Totoro ajudando a menina a encontrar sua irmã, sã e salva num santuário. Ela queria levar uma espiga de milho para a mãe, crendo que o presente a ajudaria a se melhorar. Totoro chama o “ônibus gato”, elemento fantástico apresentado anteriormente, que leva irmãs até o hospital onde deixam o presente para a mãe e as leva de volta, encerrando a história com o mesmo tom mágico e otimista com que a iniciamos.
Fontes:
https://www.revistaperpetua.com/post/kishotenketsu-como-construir-narrativas-sem-conflito
James Whitman: “Camp NaNo 2021: How to kishotenketsu” (video YouTube)
Canal Narrativando: O Segredo Narrativo dos Mangás: Kishotenketsu (video YouTube)